Porque me chamam de Fera...



Este é um dos meus antigos manifestos, mas que eu acho relevante para quem não me conhece.

Sempre fui uma pessoa de muitos nomes. Meus pais colocaram-me o nome de Fernando César Oliveira de Carvalho. Um belo nome. Fernando significa guerreiro. César já serviu para denominar os antigos imperadores romanos. Guerreiro imperador, ou Imperador Guerreiro; tanto faz. Um imperador que consegue seu posto através da luta, ou que simplesmente defende seus valores com o punho. Bonito; mas, irreal.
Somente em meu círculo familiar sou constantemente chamado de Fernando César. Tios, tias, minha avó e meus primos que costumam me chamar assim.
É óbvio, que sou chamado de Fernando, no dia a dia. Ou simplesmente, Fe; carinhosamente. Logicamente, que esta forma carinhosa de denominação, normalmente surge de bocas femininas. Amigas, confidentes, amantes...
Fefi; é como meus mais antigos e íntimos amigos me chamam. Um apelido surgido de outro. Fefé, como me chamavam em uma das minhas antigas escolas; Virgem do Pilar, na Vila Talarico. Era chamado de Fefé pelos meus amigos e amigas da oitava série, que pegavam ônibus comigo todos os dias; eu tinha apenas oito anos. Eles se espantavam com o “molequinho”, que tinha amizade com os motoristas de ônibus daquele horário; o Portuga, um gentil velhinho português. Fui na casa deste umas duas vezes, até ele se aposentar e se mudar para a Cohab 2, meu antigo bairro. O Jacaré; um nordestino super-figura. O José, o Eduardinho... Sentava-me sempre sobre o motor do ônibus - naquele tampão – e ia durante a viagem, conversando com o motorista do ônibus, com o cobrador e com os alunos da escola. Curtia muito pegar aquele ônibus, porque no ônibus particular da escola, só tinha filhinhos de papai. Logo que eu cheguei à primeira série, falei para meu pai que já era homem e queria pegar ônibus público. Para provar a ele (já que ele se recusava a deixar eu pegar ônibus sozinho), peguei o mesmo ônibus que eu pegaria para ir à escola, e fui até a casa da minha avó; ali perto. Eu tinha sete anos. No ano seguinte, estava eu no transporte público; feliz da vida. Um dos alunos da escola falou que o tal “Fe-Fe-Fernando” era um menino inteligente. Dessa “gaguejada”, surgiu o apelido. Meus amigos da minha rua, achavam-me quieto demais. Toda vez que referiam-se à mim, falavam do “finado Fernando”. Logo, eu achei engraçado, e juntei as duas primeiras sílabas, e me apresentei ao Fú, o dono de um fliperama que ficava na minha rua, desta forma. Logo, todos adotaram. É talvez, o mais antigo apelido pelo qual ainda sou chamado. E fui eu que o criei! Logicamente, “as glórias” de tal criação, recaíram sobre o próprio Fú, sobre o Flávio e sobre o Duda; um vizinho que também estava ali, naquele momento.
Andréia, meu amor de infância, costumava chamar-me de Pimpão. Estávamos na Pré-Escola, e a Estrela havia lançado o tal de Ursinho Pimpão. Ela me achava parecido com ele. Acho que, deve ser por causa do “black-power” que era meu cabelo, quando criança. Eu não ligava; afinal de contas, era maluco por aquela japonesinha de cabelo curto.
Talvez, a mais misteriosa denominação que me deram na vida foi Manoel. Até hoje, não entendi muito bem porque me chamavam por esse nome. Meu amigo, Shibata ou Carlos José de Vasconcelos Júnior (Hahaha! E ele falava mal do meu nome!), que me colocou tal apelido. Ele nunca me contou o motivo. Mas, somente ele, os Marcelos e alguns amigos que iam à Praça Brasil, chamavam assim.
Durante um tempo, fui apaixonado por uma evangélica (nem era tão crente assim...), Luciana. Ela me chamava constantemente de Simão. Alguém lembra-se do macaquinho Simão?
Apelidos que surgem de bocas apaixonadas, geralmente, extremam o ridículo. Geninho, Lulé, Nuvemzinha (entendem agora, né?), Zé (pasmem!), Lorenzo... Mas, nenhum apelido vindo de alguém por quem eu tenha me apaixonado me tocava tanto como o que a Carbel havia me dado. Jonny.
Carbel é a irmã de um de meus melhores e mais antigos amigos, o Shibata. Ela durante muito tempo, gostou de mim sem dizer nada. Tinha medo do meu desprezo e da reação do irmão. Para falar sobre mim para as amigas, inventou esse nome. Tinha 12 anos e eu, 14. Ficamos juntos, namoramos escondido, ela brigou com a família, eu a traí no meu aniversário de 15 anos para não dar bandeira para o irmão dela. Não conseguia olhar para ela no dia seguinte. Nos cumprimentamos como amigos e ficamos assim até o dia dos namorados, no ano seguinte. Em que no meio de um telefonema da namorada do Shibata para a casa dele, eu peguei o telefone da mão dela e convidei a Carbel a ir ao antigo parque da Sabesp para conversar. Ficamos juntos novamente. Fui envolvido por um turbilhão de emoções adormecidas, ou apenas escondidas. A pedi em namoro. Com a sua negativa, se desencadeou uma porção de eventos; culminando na maior tristeza da minha vida. Ainda fico emocionado ao ver o recado que ela colocou na capa de um antigo caderno, quando ainda a inocência dela era o que me chamava mais a atenção. “Jonny; você é o cara mais bonito que existe. Se não ficarmos juntos nunca, quero que seja feliz. Da sua Bel.”
Mohammed Abdul foi o nome que adotei, por motivos religiosos. Na verdade, nem foi eu mesmo quem escolheu. Mas, ele não serve como uma negação de meu passado, muito menos, como uma bengala.
Mas, dos inúmeros nomes que me deram durante a vida, o que mais eu me identifico é Fera. Surgiu pela primeira vez quando eu tinha 11 anos. Todos me consideravam um privilegiado. O excesso de testosterona em meu organismo fez com que eu desenvolve-se um corpo incompatível com a minha idade. Era o único da “turminha” que tinha barba. Na verdade, só cavanhaque. Mas, já era um começo. Podia comprar cigarro, bebida, ir aos bailes, à antiga Toco, sem nunca ser barrado ou questionado por minha idade. Começaram as descobertas da vida de “adulto”. E a minha desconfiança e revolta contra o mundo. A psicóloga disse aos meus pais que era passageiro. Não passou até agora.
Logo, esse excesso de pêlos pelo meu corpo, serviu como ponte para uma comparação para o Fera dos X-Men. Muitos acham-me realmente parecido com o mesmo. Afinal, de negro para azul falta pouco (Nossa! Essa foi horrível!).
Mas, de forma geral, representa bem mais o que eu sou. Sempre fui mais o Fera, ou o Fefi, ou qualquer outro, do que o Fernando propriamente dito. Este, somente meus pais e parentes o conhecem. A totalidade do meu ser, poucos conhecem, muitos poucos. Pais e parentes, muito menos. Mas, não sinto de forma alguma, vontade de mostrar para eles o Fera. Prefiro que continuem a se orgulhar a cada conquista desse vagabundo que vos escreve, em vez de se sentirem fracos por não terem percebido e evitado muitas das coisas que considero como experiências da minha vida. Coisas que são importantes. Muitas vezes, desgraças. Mas que fazem parte do meu caminho e rumo neste mundo. O nome Fera significa cada momento deste. Encontra significado em minha revolta e indignação. Mostra a minha personalidade, tão forte, que esconde totalmente meus medos e inseguranças; e a minha inocência, que provoca raiva e indignação em alguns “adultos”, e desperta admiração e ternura nas pessoas que não deixam suas “crianças” morrerem. Mostra minha arte. Mostra como sou capaz de ser tão passivo, mas quando acuado, me torno feroz. Demonstra meu ódio pela ignorância da alma e indiferença da mente. Mostra porque me sinto como um lobo entre ovelhas, quando me encontro entre pessoas que apenas existem, e não procuram viver. Mostra como eu odeio; como eu amo. Mostra a todos quem eu sou.
Muito prazer, meu nome é Fernando; mas, meus amigos me chamam de Fera. Fera. Fera. Muito prazer!

Fiquem com Deus!