Pra me conhecer...


Velha imagens, perdidas em um hd formatado... Calíope e Orfeu - Painter - 2007

Bem, a vida caminha sem muitas novidades nos últimos dias. Na verdade, percebi que tenho criado uma visão "saturada" da vida e das coisas que me rodeiam. Mas, tenho que abrir os olhos. Sempre! Senão acabo virando mais uma pessoa, sem nada a dizer, vivendo por viver...

Não fiz muito mais coisa além do que já havia feito. Andei pintando um Garage Kit do Gundam Wing e pintando um retrato que ficou meio largado. Assim que eu terminar eu posto aqui.

Enquanto não souber fazer vídeo (cabaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaço), vai ficando com imagem quadro-a-quadro (Pois é... Infelizmente acabei perdendo o lápis... Não sei o que deu no fdp aqui, que fiz a bosta da arte-final no layer do lápis... Burro! Burro! Burro!)
 
O "processo criativo" é um negócio engraçado... Todo mundo sabe que eu sempre preferi o Fera ao Wolverine (por motivos óbvios). Entretanto, em um acesso de "ciúmes" por Hugh Jackman (very long history... Né, Dona Diny?), eu risquei um rosto meu meio "Wolverinado"... Aproveitei a oportunidade pra aprender... Resolvi testar meus conhecimentos em arte finalização, mas queria fazer por meios digitais... Não satisfeito, resolvi usar retículas... "Taí" o resultado... "Wolvie" - Photoshop - 2009










... cabelo, barba e tudo mais foi na base da "canetada"... tá certo que o photoshop tem inúmeros recursos como brushes, padrões e suas criações e afins, mas nada substituiu a mão e a expressividade dela... As "irregularidades" é que enriquecem o trabalho e o deixam "bonitim"...Wolvie" - Photoshop - 2009



Nossa... Ontem (04/02) assisti um documentário sobre o Spirit e Will Eisner... Como eu amo o Spirit e aquele ar "noir"... Pronto... Olha a porra da influência na fumaça do charuto... Cara... Eisner é um gênio!!!!"Wolvie" - Photoshop - 2009

Olha aí uma ferramenta que eu nunca tinha usado... Tem um filtro no photoshop pra fazer fibras... Sempre preferi "colar" a textura do tecido... Até que não ficou tão mal, mas é meio limitado..."Wolvie" - Photoshop - 2009

(Como sempre pedem "dicas": quando for trabalhar com retículas, imagine como se fosse "as verdadeiras"; coladas... "cole" em uma camada separada um padrão de retícula... use a máscara de camada e "recorte" as partes claras... para fazer o degradê, use a borracha, jogue a opacidade em uns trinta por cento... A mesma coisa que fazemos no papel... Sem segredos... Basta tratar seu desenho como se fosse feito no papel...)




Uma coisa interessante é fazer uma sobreposição de estilos de retículas... faça vários modelos e coloque-os em camadas separadas para conseguir editar melhor... O uso de padrões de linhas também são interessantes.... "Wolvie" - Photoshop - 2009


Hachuras são maravilhosas... E tem várias maneiras de se fazer... Eu juntei um monte aí... Na verdade, não tem "uma regra" pra se fazer isso... Mas, é muito legal estudar gravuras e ver como é feito para se passar a impressão de "esférico", "cilíndrico", etc... É uma puta escola!!! 


Se liga ali no cabelo... Outra coisa que eu curto bastante, são os brushes "splatshes", "grunges" e "natural brushes"... Sempre é bom adicinar na arte, pq dá um toque mais "natural" na obra, e são muito "istailes"... pq dão uma cara de "espirro", ou queda de tinta no desenho... Imperfeições são bacanas... tira o ar artificial de um trabalho digital... Só não esqueça de dar uma "desfocada" mínima..."

...o detalhe da dogtag foi pensado desde o iníco... eu amo a dogtag do Wolverine... A canadense é completamente diferente da americana... Tem duas partes que são destacáveis, e quando o soldado morre, a parte de baixo é quebrada... Note que a do Wolverine já é quebrada... Será que terá alguma resposta sobre isso no filme?
"Wolvie" - Photoshop - 2009

Esta final, eu fiz para dar uma cara de impressão... Ficou bom, não?
(Heeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr (momento Michael Kyle)... Não! ¬¬°)

Mas, a questão principal nem é esta. Na verdade estou criando este post mais para dizer que coloquei em meu disco virtual (onde eu coloco as apostilas das matérias as quais leciono), todo o conteúdo anterior do blog. Como meus amigos e velhos leitores sabem, no meio do ano passado acabei deletando tudo por conta de alguns problemas na esfera pessoal. Mas agora está lá, em formato .doc. Se quiser me conhecer melhor, ou apenas me conhecer, ou ainda, somente saber que o que rolava aqui antes, clica aqui no link. (Na verdade, bem na verdade, este post foi criado para minha tia Clélia, e para as amigas Eliza e Márcia. Sei que ninguém teria a paciência de ler tudo o que já foi postado, mas o que elas acharem interessante, podem dar uma lida)

Outra coisa é, ando querendo saber quem anda lendo o blog e a opinião a respeito de um assunto. Será que eu devo a postar meu "diário", junto com poesias e textos que eventualmente eu escreva, ou devo deixar como está? Deixe sua resposta nos comments...

Então, por enquanto é isso. Um grande abraço e beijo na bunda.

Salam!

Em busca da poética perfeita...

Ainda em busca da poética perfeita, inicio uma nova fase em minha obra digital. Esta nova fase, é encabeçada por duas paixões: a tipografia e as texturas. Busco uma forma de simplificar meus trabalhos e dizer e passar o máximo com o mínimo de informação. Adoro meu exagero e minha forma de ver o mundo, mas tenho que buscar a simplicidade para encontrar a tal "felicidade estética"...
Uma nova fase no trabalho estimulou a criação de uma nova assinatura, mais limpa e elegante, que demonstra claramente minha paixão pela tipografia.


Existem pessoas que não cabem em uma informação caricata, e uma dessas é minha amiga Eddie. Fiz uma releitura de uma antiga ilustração, buscando a simplicidade das linhas e cores. Eddie - Photoshop, Artrage, Corel Painter X - 2009



Releitura da ilustração do conto Revelações. Glória - Photoshop - 2009

Se quiser, há "uma Ode" para ler e uma música que adoro para dar clima: Bela Lugosi is Dead

Revelações


Nada como um editor ou uma editora competente. Uma pessoa muito querida que eu chamo de amiga, Eddie, editou um de meus contos favoritos e que eu havia escrito para a minha noiva: Revelação. Devo confessar que ao reler o conto, fiquei estupefato com os erros ali contidos. Mas nada que um boa ajuda não resolva. Obrigado Eddie, por sua amizade e dedicação.

 

Com vocês, Revelações.

 

(Escrito ao som de Combatiente, da banda Maná)


Combatiente - Maná

 

A visão escura não o deixava entender onde estaria. Sua mente confusa não se lembrava sequer quem seria ele próprio. O formigamento trouxe a percepção do que seria seu corpo, mas algo estava diferente. Após esfregar os olhos, procurando trazer a visão da realidade, ele ficou observando suas próprias mãos, tentando entender de onde vinha aquela sensação estranha. Parecia-lhe ter controle total sobre seu corpo, mas a sensação que tinha era de que sua extensão ia além de seus membros, chegando ao ambiente em volta; como se o todo pudesse ser moldado à sua vontade de alguma forma.

Entretanto ele percebe que não está sozinho. Uma voz metálica, estranha, soava ao longe, parecendo-lhe chamar o nome. Ele, ainda confuso, procurava entender porque daquela denominação, com som de ar passando em um encanamento de alumínio ou qualquer outro metal, soava inteligível aos seus ouvidos como um chamado. A voz era firme e reconfortante, mas dava-lhe a impressão de ordem; sua língua não era natural, mas totalmente compreensível.

Agora ele percebe a desolação que há no ambiente em que se encontra. Ao mesmo tempo familiar e reconhecível, mas também estranho e quase onírico. Um enorme deserto de imensas proporções; terra plana, toda coberta de dunas de areia trazidas pelo vento. Mas ao virar-se para a direção onde surgiu a voz estranha, ele percebe que, em meio à desolação, há uma multidão reunida. Como falanges militares, ela se reunia em imensos grupos, separados aparentemente por alguma hierarquia incompreensível. Todos estavam nus e armados com grandes cimitarras, longas lanças e escudos redondos, caminhando em direção ao horizonte. Mesmo à distância que estava, podia-se ver a luz dourada que era refletida pelos ornamentos de ouro de suas armas. As nuvens do céu moviam-se como que vivas, emoldurando o céu, quase como uma tempestade com vontade própria. O sol transpunha seu obstáculo sem esforço. Seu brilho transmitia uma radiação de calor e alegria, mas não era incômodo como as regiões desérticas, que sua quase inexistente lembrança poderia trazer. No entanto, era de uma luz imensamente maior do que poderia lembrar e, impressionantemente, não lhe cegava. Caminhando cambaleante, quase que se adaptando às pernas que pareciam não ser suas, ele vai em direção à multidão. Interrompido em sua sofrida caminhada, por um vulto que cortou sua fronte com um vôo rasante, teve sua visão tomada por um tom rubro de sangue escorrendo e cobrindo seus olhos. Caiu por terra de joelhos, ouvindo novamente a voz metálica:

— Mohammed! Agora tens o selo! Levanta, pois chegou a hora de teu Jihad!

Limpando seus olhos com suas mãos cheias de areia, que transformavam sua visão em uma massa incômoda e arranhadora, ele vislumbra algo que lhe traz terror e conforto ao mesmo tempo. Suas crenças se fazem verdadeiras pela matéria. A alguns centímetros do chão, plana um ser que ele acredita ser um anjo. Com o que seria o rosto coberto pelo capuz de um manto, a figura se estende imponente à sua frente. Um homem de compleição física impressionante, com mais de dois metros de altura e que parece, não voar, mas flutuar no ar, visto que ele mal batia suas asas de imensa envergadura para manter-se planando.

— Tiveste fé e serás recompensado. Mas a hora das trombetas de Allah chegou! Coloca-te em teu posto, e veste-te de tua fé, para que possa ser guiado ao teu destino! Se credes, vai e caminha com os teus! Mohammed, chegou tua hora!

— Mas quem és tu, ser de luz?

— Aqui não há títulos, filho do Homem. Caminharemos juntos, e combateremos o Inimigo, como irmãos.

— E o que faço para caminhar contigo?

— Crê! Como nunca antes, deposita toda tua força em tua fé! Serás a espada do Senhor! Nasceste com esta missão; retornou dos mortos para cumpri-la. Oh! Olha, olha, filho do Homem! A tua retaguarda chegou!

Tomado ainda pelo espanto, vira-se de modo quase instintivo, vendo uma nova legião de homens chegando onde estava. Mas, estes eram diferentes. Eles vinham de olhos fechados, e suas vozes em oração pareciam poder ser ouvidas a quilômetros de distância. Estes vestiam robes brancos, e não tinham nada em suas mãos, deixando-as apertadas, juntas ao rosto. Seguiam um grupo de anjos, que em fila, pareciam direcionar a caminhada deles

— Veste-te de tua fé, e vá com os teus! — Disse-lhe o anjo, antes de alçar vôo em direção ao céu tempestuoso.

Novamente, tomado pelo espanto e temor do desconhecido, agora percebe que o que se junta e se move acima de sua cabeça, não são nuvens, mas sim anjos. Dos mais variados tipos, com suas vestes simples e suas peles metálicas, um sem número de asas sobrevoam aqueles que se juntam em terra. Brandindo, o que aos seus olhos humanos pareciam ser lâminas de fogo, voavam também em direção ao horizonte.

Apesar do movimento frenético e do som de bater de asas e orações que tomavam seus ouvidos, ele sentiu uma paz extrema. Abaixou sua cabeça e fechou os olhos, agradecendo ao seu Deus por ter sido escolhido para aquele momento.

— Não, não meu Deus! Nosso Senhor! – Ele disse a si mesmo, em voz baixa.

Naquele momento, voltou a sentir um formigamento em seus membros, mas desta vez, acompanhado de um peso estranho. Ao abrir os olhos, deparou-se com uma daquelas cimitarras e um escudo em suas mãos, mas as armas não eram as detentoras do peso que sentia, mas suas próprias mãos e o poder que sua fé parecia imbuir a elas. Percebeu que seu corpo não mais era controlado por neurotransmissões em sinapses ocorridas em seu cérebro, mas por sua fé. Fé verdadeira. Sabia que se sua fé falhasse, estaria perdido. Mas, qual seria esta perdição? Morte eterna? Não sabia. A única certeza que tinha, era que o vazio que um dia tomava seu coração, em sua existência mortal, já não mais existia. Com a coragem que invadiu seu coração, saiu correndo em direção as falanges que se formavam à sua frente. Uma outra multidão era vista, mesmo que como alguns pontos vindos de diversas direções, que corriam para se juntar aos outros, aumentando o número daqueles que a fé carregava em direção ao destino incerto. Cada vez mais próximos, os homens e mulheres de robe, oravam com as vozes também cada vez mais potentes, lembrando as batidas dos tambores de guerra. Seu coração encheu-se ao ser recepcionado por seus companheiros em uma das falanges que, com sorrisos sinceros, demonstravam alegria ao verem mais um juntando-se a eles, que seguiam cantando louvores e glórias. Poderia identificar alguns dos rostos daqueles homens e mulheres nus, mas não sabia precisar de onde. Uma saudade matreira tomou-lhe a alma, dando-lhe força, e não tristeza. E com um som único, todos pararam de marchar.

À frente de todas as falanges, um daqueles seres voadores estava parado, estancando o fluxo de homens, como um curativo num ferimento. Começou a falar em sua língua estranha, diante do silêncio dos homens que tiveram sua marcha interrompida. Antes que pudessem prestar atenção ao que lhes era dito, juntaram-se a ele mais seis anjos, todos de pele prateada, que não portavam as espadas flamejantes, mas trombetas, e as tocaram. O som emitido delas não tinha um ritmo, não lembrava sequer o som de trombetas, parecendo mil vozes de crianças fazendo um chamado. O som preencheu todo o ar, seguido de um silêncio absoluto. Era como se todo o universo tivesse se calado para ouvir o anúncio daqueles instrumentos.

Sem entender muito bem o que estava se passando, ele começou a esfregar os olhos novamente, tentando melhorar a visão do que estava acontecendo à frente. Quando um calor tomou seu corpo e ele logo percebeu que o Sol aumentava de intensidade, cada vez mais. Pareceu-lhe que o Sol se aproximava, atendendo ao chamado das trombetas. Impossível!, ele pensou, rindo de seus próprios pensamentos. Não poderia estar mais enganado, todavia.

Realmente a luz se intensificava por conta de sua aproximação, como se um cometa viesse na velocidade da luz para chocar-se contra a Terra, condenando a todos. O que pôde observar era que, apesar da luz intensificar-se, ela não incomodava sua visão e surgia de um único ponto: um homem. Um homem sobre um cavalo branco, cavalgando no infinito e de onde surgia toda a luz que lhes cobria e lhes dava calor. Este homem de feições humanas ostentava cabelos negros bem aparados, assim como sua barba. Olhava com compaixão a todos os que estavam à sua frente. Onde seu olhar passava, parecia que olhava para cada um dos indivíduos ali presentes. E sem proferir uma única palavra, virou-se com seu cavalo em direção ao horizonte, cavalgando calmamente no ar. Também espantados e maravilhados com aquela visão, todos os homens o seguiram, cantando e orando mais alto que antes. Aquela expressão de compaixão foi trocada por um cenho franzido, assim que vislumbrou o que havia em sua frente.

Mohammed, tentando entender o que se passava, olhou em direção ao horizonte, além da luz daquele homem, e pôde perceber que não muito além dele, o céu começava a escurecer, e podia-se ver claramente o céu dividido em dia e noite, um dos lados com o Sol preso em um turbilhão de nuvens de gafanhotos e o outro com a Lua quase que toda coberta por outra nuvem de insetos asquerosos. Por um momento, ele teve a impressão de que estas nuvens tinham o formato de dragões. Do horizonte infinito, ele pôde ver uma forma gigantesca aproximar-se do homem brilhante; uma forma horrenda e hedionda. Seu desejo naquela hora, foi de correr, mas buscou a força em sua fé e manteve-se ali. Sabia, era o Inimigo. O som de asas sobre a sua cabeça cessou, juntamente com as canções e orações, mas o rufar de asas ao longe, tomou seu lugar. Surgidos do chão, colocam-se ao lado da besta, do seu lado esquerdo, um dragão, e do lado direito, um cão. Ambos com sete cabeças. A tensão pôde ser sentida no ar, com os músculos retesados, parecendo estar soltando pequenos estalos. Mas o desespero toma conta do coração de Mohammed, que tenta com todo o esforço agarrar-se em sua fé, enquanto o homem à frente debatia com aquela besta gigantesca. Ao ver-se cercado, ele apeia de seu cavalo e, num piscar de olhos, toma as mesmas proporções do seu confrontador. Mas ele não o afronta. Apenas o olha e parece colocar argumentos contra aqueles de seu contestador. Seres inúmeros, tão hediondos quanto seu mestre, lambem o que seriam seus lábios e gritam caluniando-o e insultando-o, irrequietos, sobrevoando a área que ocupam, logo atrás da contenda-de-um-homem-só. Mas, alguma coisa acontece. A besta fala algo para o homem e este intensifica seu brilho. Seus cabelos tornam-se brancos e ficam esvoaçantes, mesmo sem vento. Há algo de errado. Sobre sua cabeça, Mohammed ouve gritos dos anjos que tomam posições de ataque e brandindo suas lâminas de fogo, que parecem crepitar à vontade de seus portadores. À sua frente, os seres horríveis passam voando pelos interlocutores, ignorando-os e focando sua atenção nas falanges à sua frente.

Mohammed perde a firmeza de sua mão. O horror que se direciona a ele é indescritível. Uma enorme horda daqueles seres, vêm em sua direção. O sentimento de auto-preservação o faz querer correr. Ele busca força em sua fé, mas ela não se mostra suficiente. Ele se vira para trás, e quando suas pernas começariam a propelir sua fuga, ele vê algo que clareia sua mente. Na primeira fila, daqueles homens com robes brancos, ele vê uma figura de olhos fechados em oração que lhe chama atenção. A pele morena e os cabelos escuros que caem sobre os ombros, lhe trazem lembranças. Lembranças. Lembranças de uma vida. Duas pessoas sentadas em um sofá, conversando, enquanto aquela figura acaricia seus cabelos. Eles riem. Eles se beijam. Os dois abraçados, encostados em um muro da residência daquela figura. Sorrisos, beijos e abraços. Felicidade. Vida. Ele a reconhece, quando ela abre seus olhos, e sem interromper sua oração, ela lhe sorri. Ele aperta a empunhadura de sua cimitarra, enquanto uma lágrima escorre em seu rosto. Ele vira-se sorrindo, e começa a correr na direção de seus adversários, gritando:

— Pela Glóriaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!


dir. aut. lei nº9610 de 19.02.98

Ode à Uma Noite Vazia

Ler ao som de At the Drive In, One Armed Scissor:

One Armed Scissor - At the Drive-In

A fumaça espessa de cigarro emoldura as tristezas, revoltas e dúvidas residuais de uma música de At the Drive In que ainda pulsa em seus ouvidos obtusos. Ele fica em uma posição cômoda, distraída e posada, com os dois pés repousados em um longo banco de madeira encostado-se a uma das paredes e com a mão estendida gerando apoio e seus olhos inquietos percorrendo o pequeno cômodo que serve de pista de dança para aquele singular ambiente chamado de bar. Em uma surpresa agradável, tem a atenção desviada para a projeção na parede, onde as batidas do som alto sentidas em seu peito anunciavam o início de Out of Space. Imagens cheias de saudosismo e memórias de beijos perdidos no contar incessante do tempo. O sorriso denota o sarcasmo de seu próprio clichê. Mais um trago.

A distração momentânea lhe serve bem, colocando a figura esguia da pequena morena em seu raio de visão. Ela dança sensualmente – sensual demais – e reanima seu ânimo de perdido. Esguia como a lembrança que lhe traz lágrimas.

Em mais um dia. Em mais uma noite. Em mais um momento vive de fantasia. Fantasia. Fantasia de meia-arrastão e saia curta. Fantasia de sexo casual ao som de Bauhaus. Dançando com borboletas. Não, não. Cocteau Twins. Som de violão e aquela voz tão adorada. Dançando solitariamente contra uma parede, tentando capturar borboletas imaginárias, cercado de pessoas que lembram aquela Morte de Neil Gaiman. Aquela voz ao pé do ouvido. Êxtase. Êxtase balbuciado gerando o comentário de seu amigo gay: “Gostosa, não?”. Sorriso sem-graça; quase delicado. Mas não sem mais um trago.

Hoje, talvez uma conversa interessante sobre o formato das nuvens ou tentar conhecer alguém novo. Copo vazio ou uma Coca-Cola?

Que vida é essa? Cheia de solidão auto-imposta e de uma autopiedade sem explicação. Pintura em umas das paredes com sua assinatura ou o guardanapo com desenho de um olho. Sempre sozinho e sempre acompanhado. Decidido a encher seu copo, levanta-se e caminha, repousando-o sobre o balcão e pedindo a mistura de sabores tão tradicional em sua roda de amigos para o dono-barman-garçon-dj daquele lugar. O primeiro gole é doce. Doce como um beijo desesperado e cheio de paixão momentânea.

Decidido a extinguir sua solidão, senta-se em uma mesa para conversar com sua amiga, que por sua vez conversa com uma amiga de sua faculdade. Bonita, alta, de corpo curvilíneo e voz sensual. Logo a conversa é monopolizada pelo interesse mútuo e a distraída – note o sarcasmo no tom de voz – amiga se retira sob a desculpa de buscar uma cerveja ou qualquer outra coisa que a entorpeça. Não sabe ao certo. Mais um cigarro e a tomada do desespero da chegada cada vez mais próxima de mais um amanhecer solitário, traz palavras cheias de malícia para a boca dos dois prováveis amantes desconhecidos. Sem saber se é o cheiro acre de seu hálito ou o desvio da conversa para assuntos pseudo-intelectuais, observa a candidata desta noite se retirar com a desculpa de que precisa ir ao banheiro. Mas já sabe que não haverá regresso. Não naquele salão cheio de almas interessantes, boêmias. Todas tão cheias de qualidades e defeitos quanto seu observador, mas onde alguém com intenções e palavras mais diretas olha agora para aquela moça alta e seu vestido azul. Ninguém quer saber se o mundo acabará ao amanhecer, se a vida continua ou se antes de dormir irão a uma loja de conveniência comer um Cup Noodles antes de dormir. Ninguém quer saber o que aconteceu em seu trabalho ou quantos relatórios irão fazer para a próxima segunda-feira. Ninguém se lembra há quanto tempo tomou seu banho; à não ser - é claro - se já houver a possibilidade de mais uma transa. Todos estão ali, vivendo seus momentos pessoais e únicos, fazendo a única coisa que lhes importa naquele momento. Seja qual for a estratégia da noite, todos tentarão realizar seus desejos.

Seja o garoto que quer sexo ou o que quer encontrar alguém que lhe arranque a virgindade persistente. Ou a garota de saiu de casa com seus amigos e amigas com a intenção de dançar. Ou se a mesma garota mudou de idéia e decidiu flertar com o rapaz de aparência oriental e sobrenome espanhol. Todos se realizarão. Talvez cheguem em casa e farão sexo com seu companheiro antes do beijo de boa noite. Talvez durmam sozinhos e lamentando-se de uma existência vazia e sem sentido que se afoga facilmente em um copo de bebida destilada. Talvez dormirão em uma marquise ou simplesmente cairão em coma alcoólico. Talvez e ninguém se importa.

A mente voa para um lugar estrelado sob as pálpebras fechadas para sentir o movimento de sua dança pouco antes do sorriso fugidio selar seu compromisso com seu velho companheiro: o longo banco solitário.


Pandora - Cocteau Twins

dir. aut. lei nº9610 de 19.02.98