O Baile (Le Bal - França - 1983)

Como vai, galera? Espero que todos bem e estudando!

Devo lembrar da entrega do relatório de "A Arte é Alegre?", texto de Theodor Adorno (discutido na última quinta-feira), que deve se dar na próxima quinta-feira (14/05/2009) - e sem adiamentos (visto que a entrega atrasada fará cair a nota do relatório pela metade). Mas, para um maior aprofundamento no tema, separei alguns textos relacionados que ajudarão no relatório (download aqui)

Em nossa próxima aula, vamos assistir o maravilhoso filme de Ettore Scola: O Baile (Le Bal - 1983), para a realização de relatório com entrega prevista para a aula seguinte (quinta-feira, dia 21/05/2009).

Segue a ficha técnica e um "aperitivo" do filme.

Grande abraço!


 

O BAILE  (1983)

Le Bal   (França)

Ballando, ballando   (Itália)

 

 

 

Direção:  Ettore Scola

Roteiro:   Ettore Scola, Ruggero Maccari, Jean-Claude Penchenat, Furio Scarpelli

Produção:  Giorgio Silvagni

Música Original:  Gilbert Bécaud, Vladimir Cosma

Fotografia:   Ricardo Aronovich

Edição:  Raimondo Crociani

Design de Produção:  Luciano Ricceri

Figurino:   Ezio Altieri, Françoise Tournafond

Efeitos Sonoros:  Bruno Le Jean, Corrado Volpicelli

País:  França, Itália, Algéria

Gênero:  Comédia Musical

Prêmios: Prêmios César, França  -  César de Melhor Filme

Prêmios César, França  -  César de Melhor Direção

Prêmios César, França - César de Melhor Música



Elenco 
Ator / AtrizPersonagem
 Marc BermanO Aristocrata / O Colaboracionista
 Martine ChauvinA jovem Florista / A Estudante
 Christophe AllwrightO jovem do Subúrbio
 Aziz ArbiaO jovem Operário
 Chantal CapronA Manequim
 Régis BouquetO Patrono do Salão / O Camponês
 Liliane DelvalA Jovem de cabelos compridos / A Alcoólatra
 Francesco de RosaToni, o jovem Criado
 Rossana di LorenzoA Dama-pipi
 Étienne GuichardO jovem Estudante / O jovem Professor
 Raymonde HeudelineA Operária
 Arnault LeCarpentierO jovem Tipógrafo / O Estudante
 Olivie LoiseauO jovem irmão da Operária
 Nani NoëlA jovem Judia / A Refugiada
 Jean-Claude PenchenatA "Cruz de Fogo"
 Jean-François PerrierO Sacristão apaixonado
 Anita PicchiariniAmiga da Operária
 François PickO jovem Estudante
 Geneviève Rey-PenchenatA Aristocrática
 Danielle RichardA Ajudante da Modista
 Monica ScattiniA Jovem Míope
 Michel TotyO Operário especializado
 Michel van SpeybroeckO Homem que vem de longe / Jean Gabin

Sinopse

1983 - Num grande salão de baile, construído nos anos 30, as mulheres são as primeiras a chegar, uma após outra:  elas são desde uma quarentona clássica, com seu coque e seu tailleur preto bem cintado, à loura carnuda que faz como se tivesse sempre 20 anos...  Em seguida, entram os homens que se dirigem ao Bar.  Entre eles, encontram-se um indivíduo cheio de tiques e que não para de chupar bombons, um outro de idade madura mas sempre bem disposto, um homem tímido de ar amedrontado.

Enquanto dançam ao longo do salão, homens e mulheres se recordam do passado, com os bailarinos mudando de personagem à medida que o filme viaja no tempo, repassando a história da França dos anos 30 aos anos 80.  

Assim, em 1936, surge a Frente Popular dando força à classe trabalhadora; em seguida, é retratado o período de ocupação nazista, durante a 2ª Guerra Mundial;  em 1944, quando Paris é libertada pelas forças aliadas, um oficial alemão e um colaborador são repelidos, enquanto um membro da Resistência é recebido como herói, ao mesmo tempo em que explode a música americana, no estilo Glenn Miller; em 1946, soldados americanos trazem meias de seda e o jazz;  em 1956, chega o rock' n' roll;  em 1968, estudantes radicais tomam conta do abandonado salão de baile;  em 1983, é a vez da música 'discô'.   O baile termina melancolicamente.

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Avistamos, inicialmente, globos de espelhos. Em seguida, nos é apresentado o único cenário do filme: uma espaçosa pista de dança, rodeada por mesas e cadeiras e ladeada por um balcão de bebidas, uma escadaria ao fundo. Eis que os atores vão surgindo. Primeiro, as mulheres (uma de cada vez); depois, os homens vêm, alinham-se lado a lado e descem os degraus de modo quase simultâneo. Todos, ao entrar, caminham em direção ao grande espelho do outro lado do salão para se observar, conferir se o cabelo e a roupa estão nos conformes. Nenhuma palavra é proferida, há somente olhares e gestos.

Não assisti a todos os filmes do italiano Ettore Scola, mas O Baile é, muito provavelmente, o projeto mais criativo de sua carreira. A ausência total de diálogos confere ao roteiro uma perigosa incursão no mundo da pantomima em plena década de 80, além de uma cuidadosa coreografia musical que realça o enfoque emocional de cada situação. A dramaturgia da fita depende exclusivamente da mise-en-scène, uma tarefa hiperarriscada!

A premissa é maquinar uma retrospectiva da sociedade francesa, desde a década de 30 até o final dos anos 70, por meio dos figurinos e da trilha sonora. O elenco é sempre o mesmo, entretanto as músicas e a cenografia encarregam-se de nos centrar em diferentes períodos históricos. Mais que isso, O Baileescreve uma esplêndida crônica dos relacionamentos humanos ao longo do século 20, tão saturado por mudanças de comportamento. O melindre no primeiro contato dos rapazes com as moças, no período do pré-guerra, dá lugar à exploração banal da sensualidade nos rituais modernos de paquera. Decotes ousados e pernas de fora deixam pra trás os ancestrais vestidos recatados e toda a sorte de acessórios. 

Apesar das transformações mais visíveis, Scola deixa patente que o maior objetivo das pessoas é imutável: encontrar um parceiro. E qual melhor ambiente para falar disso do que uma pista de dança? O salão, as músicas e o gestual dos atores se mantêm como elemento figurativo da passagem do tempo, tal como a caricatura dos mais diversos tipos urbanos, do gângster ao herói de guerra, do gigolô latino ao malandro com jaqueta de couro e topete, da glamurosa loira sexy à gélida morena vamp. Cada um aludindo nostalgicamente a épocas que não voltarão mais, prato cheio aos saudosistas de plantão. Acompanhar este filme junto a uma platéia de idade variada deve ser uma experiência e tanto, uma apreciação de como as gerações mais antigas reagem diante de semelhantes retrogressões. Inclusive nos espectadores mais jovens existe a expectativa de um sentimento catártico, uma certa identificação, saudades de uma era não vivida.

A multiplicidade de ritmos que invade O Baile garante à obra uma postura universal, muito além da história da França. Temos de tudo um pouco: clássicas baladas francesas, jazz, rumba, tango, rock’n roll, disco dance e até um samba de Ary Barroso. Um pot-pourri digno de nota. As músicas deixam de ser apenas um detalhe técnico para se tornar personagens. Há um gigantesco depósito de emoção em cada melodia, em cada letra ou arranjo, tudo sincronizado com perfeição às ações filmadas. Scola, aliás, venera seus personagens — um mais adorável que o outro —, enquadrando-os com muita ternura e respeito. Meu favorito é a garota de óculos que permanece sentada, uma revista de celebridades sempre à mão, esperando um convite para dançar. Curioso também perceber que as canções executadas nos bailes de antigamente eram apropriadas para que os amantes permanecessem colados um ao outro o tempo inteiro, o que depois foi trocado pela individualização dos movimentos.

A consistência desse trabalho é comprovada pelo notável estudo dos atores unicamente pelas exterioridades, o que converte qualquer fala num artigo supérfluo. Existe, sim, o pano de fundo histórico — a queda da aristocracia, a invasão nazista, o milagre econômico, as rebeliões estudantis, etc. —, contudo O Baile se concentra principalmente na ampliação da linguagem cinematográfica, transcendendo as regras básicas da sétima arte, para fazer um panorama psicológico dos personagens pelo uso do corpo. Portanto, chamá-lo de filme experimental não deixa de ser uma autêntica e justa classificação. Impõe-se uma corajosa empreitada em valorizar as expressões faciais, do mesmo modo como Jacques Tati, 30 ou 40 anos antes, valorizara os movimentos do elenco e das coisas a seu redor. Ettore Scola aplica um tom teatral na maioria de seus trabalhos (entre eles Feios, Sujos e Malvados e a obra-prima Um Dia Muito Especial), o que ficou ainda mais evidente em O Baile. É o tipo de filme que não agrada a qualquer um, convém mencionar. Aqui, a disposição para entrar em contato com novidades se faz necessária. Mas não se preocupe, está longe de ser um trabalho tedioso ou aborrecido. No balé de Scola, nenhuma palavra é pronunciada, porém muita coisa é dita.





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