Mais uma antiga...

(Ilustração de Renato Pontello)



Luciana.


Te espero na árvore. Hoje, às oito e meia da noite. Sentado, no mesmo lugar de sempre. Tocando gaita, ou flauta, ou o que for. Te espero, e te espero. Só para vê-la com meu pior inimigo; meu melhor amigo. Chorei lágrimas verdadeiras e falsas, a troco de nada. Só para me ver sozinho.

Nunca tiver lugar na sua vida. Nunca! Mesmo assim, insisti. Meu Deus, como insisti. Lutei com todas minhas forças, até o fim de todas minhas reservas. Só para vê-la com meu pior inimigo; meu melhor amigo.

Ora, seu pai. Ora, sua mãe. Ora, você. Ninguém fez questão de me perguntar o que eu achava de tudo isso. Mas, surpresa foi perceber que nem você se importava com a minha ida e vinda, em sua vida. Nem você, nem você.

Aqueles dias no portão; você dentro, eu fora; não fazem parte de sua memória, com certeza. Mas, eu, não me esqueci de nada. Absolutamente nada!

Nem do seu desprezo. Nem da sua falta de zelo por nós. Absolutamente nada.

Você nunca mereceu minhas rimas, trovadas, cantadas, ou o que quer que fosse. Mesmo assim, eu lhe dei.

Você nunca mereceu meu canto, meu lamento, sonhos, ou o que quer que fosse. Mesmo assim, eu lhe dei.

Minha vida nunca caminhou para frente, pois sempre olhei para trás.

Sempre volta para trás. Sempre.

Lembro do Fábio, do Renato, do Anselmo, do Dalton, da Cris e de mim. Todos fizeram parte da sua vida. Menos eu, menos eu.

O Fábio sabe, o Renato sabe, o Anselmo sabe, o Dalton sabe, a Cris sabe e todo mundo sabe. Todo mundo sabe, que, todo mundo cabe em sua vida, menos eu. Menos eu!

Te espero na árvore. Hoje, às oito e meia da noite. Sentado, no mesmo lugar de sempre. Tocando gaita, ou flauta, ou o que for. Te espero, e te espero.


dir. aut. lei nº9610 de 19.02.98

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