Fernando César Oliveira de Carvalho
Por mais uma vez, o tímido rapaz suspira, enquanto comprime seu corpo contra o rígido banco da lotação. A rotina massacrante, que fulmina os pensamentos do rapaz, e drena suas energias, tira o que resta de seu ânimo. Ele observa as pessoas à sua volta com receio, parecendo um animal acuado. As parcas palavras que se permitiria proferir ao longo do dia, são engolidas ao sabor saliva, direcionando seus olhos para o vidro transparente que torna-se sua distração ao perceber o curiosos fato de que inúmeros estabelecimentos, trocam suas placas que ostentam nomes garbosos, em sincronia operática. Outro suspiro eleva seu peito, pela falta de coragem de criar novas opções em sua vida, aparentemente, sem graça; sem vida.
Lembranças de um dia de sua existência, são diluídas no gole de Coca-Cola e nas imagens oníricas das luzes artificiais da noite paulistana. Seu olhar foge para o corpo de uma jovem. Bela; exala o ar de autoconfiança, que caracteriza sua condição de independência. Ele percorre com seus olhos, varrendo a vestimenta impecável, apesar de um dia de provável trabalho exaustivo, tentando identificar o que as dobras e costuras escondem; além do local que exala o agradável cheiro de calêndulas. Ao decifrar os contornos do austero rosto, pergunta-se do quanto aquela mulher se sente sozinha ou se a mesma, contraria as expectativas. Vasculha a delicada mão com os olhos, repousada em tensão sobre a bolsa de couro preto, em busca de um sinal que contrarie suas suspeitas. Sente o incômodo característico no estômago, antes mesmo de perceber sensorialmente, os olhos que buscavam respostas daquele inquérito ótico. Com um novo suspiro, desvia o olhar para fora, comprime-se contra o banco, aperta sua mochila contra o peito e ouve o motor do coletivo.
Não teria chance mesmo.
dir. aut. lei nº9610 de 19.02.98
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